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Cidadela revelada

Os insetos constituem um grupo de artrópodes muito numeroso e diverso, caracterizado entre outros detalhes, por apresentar três pares de patas. Estima-se que cerca de metade do seres vivos já identificados sejam insetos.

Além da diversidade de formas, os insetos também apresentam grande variedade de comportamentos, destacando-se  a capacidade de  algumas espécies viverem em sociedade.

São exemplos de insetos sociais: as abelhas, os cupins e as formigas.

Em uma sociedade os animais dividem tarefas, de modo que o trabalho individual é somado para garantir a sobrevivência do grupo.

As tarefas são feitas por diferentes grupos (castas) a quem competem atividades bem delimitadas. Assim, há soldados, operários, rainhas e machos reprodutores.

Soldados defendem os ninhos. Operários fazem todas as atividades de manutenção da colonia (vamos usar a definição de colonia encontrada em diversos dicionários: conjunto de indivíduos da mesma espécie vivendo em um determinado local), como, construção e limpeza do ninho, obtenção de alimento e cuidados com os ovos e larvas. Machos reprodutores  e rainhas têm a função de gerar novos descendentes.

Entre as abelhas, há três castas: operárias, zangões e rainhas.

Zangão - rainha - operária

Zangão – rainha – operária

ilustração em http://www.state.nj.us/dep/parksandforests/forest/bees.html

As castas de cupins são formadas por operários, soldados, rainhas e indivíduos  alados. Rainhas e indivíduos alados  saem dos  ninhos e fazem vôos nupciais. Retornando ao solo, esses indivíduos formam novas colonias. Durante anos, a rainha  faz a postura dos ovos que irão dar origem a todos os indivíduos da colonia. Para isso, o abdômen da rainha  cresce desproporcionalmente e ela já não consegue se movimentar e precisa ser cuidada pelos operários, que a limpam e alimentam.

Indivíduo jovem alado - rainha adulta - soldado - ninfa (forma jovem imatura) - sodado

Indivíduo jovem alado – rainha adulta – soldado – ninfa (forma jovem imatura) – sodado

Ilustração em http://www.ctahr.hawaii.edu/termite/forthepublic/abouttermites/index.html

Entre as formigas, encontramos machos alados, rainhas, operários e soldados.

rainha - macho - operário - soldado

rainha – macho – operário – soldado

Ilustração em http://academic.reed.edu/biology/courses/BIO342/2011_syllabus/2011_websites/NAEwebsite/Phylogeny.html

Em todos esses grupos de insetos sociais, há espécies que constroem complexas moradias para a colonia.

Colmeias de abelhas com seus favos hexagonais feitos de cera, são bastante conhecidos.

Os favos hexagonais armazenam o mel e abrigam as larvas em processo de crescimento.

Nos favos hexagonais as abelhas armazenam mel e mantêm abrigadas as larvas em processo de crescimento.

Imagem em http://beespotter.mste.illinois.edu/topics/honey/

Os cupins constroem cupinzeiros que, em alguns casos, são imensos e além da parte subterrânea, se estendem vários metros acima da superfície do solo.

Cupinzeiro - com uma complexa estrutura subterrânea e acima da superfície.

Cupinzeiro – com uma complexa estrutura subterrânea e acima da superfície.

ilustração em http://systems11thurs.wiki.usfca.edu/MoayedJ

Cupinzeiro no Quênia.

Cupinzeiro no Quênia.

Imagem em http://www.swri.org/

Cupinzeiro em Darwin, Austrália.

Cupinzeiro em Darwin, Austrália.

Imagem em www.opl.ucsb.edu

Mas e as formigas? Todos conhecemos formigueiros e não raramente descobrimos a localização de um deles da pior forma: pisando ou sentando em cima. Mas como são os formigueiros por dentro? Qual a complexidade destas estruturas? Constituídos por galerias escavadas na terra, é muito difícil observar o interior de um formigueiro. Serão tão complexos quanto as colmeias e os cupinzeiros?

Para responder a estas e outras perguntas pesquisadores têm usado uma  técnica (muito invasiva, é verdade) que permite visualizar um formigueiro por dentro.

No endereço: http://www.youtube.com/watch?v=ozkBd2p2piU há um filme de poucos minutos onde podemos conhecer o interior de um formigueiro e avaliar sua estrutura. O filme é em inglês, assim, para facilitar a compreensão vou transcrever livremente a narrativa.

O filme inicia com a colocação de dez toneladas de cimento injetadas para o interior do formigueiro. Depois de algum tempo tem inicio a escavação que dura várias semanas e revela a megalópolis construída pelas formigas. Com a ajuda de máquinas, os cientistas removem toneladas de terra. Há vias subterrâneas conectando todo o complexo, inclusive os jardins onde são criados os fungos. A estrutura permite uma ventilação adequada e possibilita o deslocamento dentro do formigueiro. O desenho desse colosso  poderia  ter sido concebido por um arquiteto, no entanto, todo o complexo  foi construído pelo trabalho coletivo de milhões de formigas, que em conjunto, formam aquilo que costuma ser chamado de superorganismo.  A estrutura tem 50 metros quadrados e oito metros de profundidade. Para construí-la, a colonia movimentou 40 toneladas de solo. O esforço para esses minúsculos animais construírem algo tão grande é equivalente, em termos humanos,  à construção da muralha da China.

Professor: aproveite para discutir a divisão de tarefas nas diversas sociedades de artrópodes e questione o porquê  dessa associação ser favorável aos animais. Sugira a ampliação da discussão do tema por meio de pesquisas sobre as abelhas e os cupins.  Aponte a importância ecológica destes animais, como por exemplo:

1- abelhas: polinização;

2- cupins: reciclagem de matéria orgânica, especialmente da celulose, composto muito abundante, mas de dificílima digestão;

3- formigas: algumas espécies mantêm interações que favorecem a germinação e a multiplicação de plantas que aparentemente são “atacadas” por elas. As formigas auxiliam a manter o ambiente limpo, ao consumir insetos e outros animais mortos. Algumas espécies comem ovos de outros insetos, auxiliando a manter essas populações sob controle. Formigas são alimento de diversas espécies de aves e de mamíferos como o tamanduá. Ao cavar o solo, ajudam a arejá-lo e movimentam suas camadas, deslocando partículas para a superfície.

Baratas, esses estranhos animais.

A maioria das pessoas, quando ouve falar em baratas,  tem reações que  vão do medo à repulsa.

Definitivamente,  baratas não são animais populares. E há muitos motivos para isso.

Tirando as reações emocionais que podem ter muitas explicações, ou nenhuma, as baratas causam tanto desagrado por inúmeros motivos:

– são veículo de doenças, pois  contaminam alimentos e utensílios de cozinha com bactérias como  Salmonella sp. e  Escherichia coli,  causadoras de doenças gastrointestinais  que podem produzir ser muito graves;

– nas grandes infestações, produzem odores desagradáveis e suas secreções mancham tecidos e  papéis;

– produzem alérgenos (substâncias capazes de causar alergia) que podem desencadear crises respiratórias principalmente em crianças e idosos.

Existem cerca de 5000 espécies de baratas já identificadas em todo mundo. Em comum,  o fato de terem o corpo oval e achatado, com longas antenas e a cabeça quase escondida.  Como todo inseto possuem seis patas que, em se tratando das baratas, possuem espinhos.

barata
Desenho esquemático de uma barata

Desenho esquemático de uma barata  – desenho em http://etc.usf.edu/clipart/47900/47969_cockroach_m.htm

 

A maioria das baratas possui asas, no entanto, elas voam pouco e quando o fazem percorrem somente curtas distâncias. Os animais jovens são parecidos com os adultos mas não possuem asas.

As baratas são insetos de metamorfose incompleta e seu ciclo de vida compreende somente as fases:  ovo -> ninfa  -> adulto.

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Ninfas de Blatta orientalis saindo da ooteca, imagem em http://animal-affairs.photoshelter.com/image/I0000iOHvBU_r6xI

Ninfas de Blatta orientalis saindo da ooteca, imagem em http://animal-affairs.photoshelter.com/image/I0000iOHvBU_r6xI

Os ovos são postos dentro de estruturas semelhantes a pequenas caixas (ootecas) de formato retangular, no interior das quais, dependendo da espécie, há de 16 a 50 ovos. Uma fêmea coloca uma ooteca a cada 5-9 dias, produzindo, ao longo de sua vida, cerca de 90 ootecas. Em um ano, uma fêmea e seus descendentes podem gerar mais de  10.000 indivíduos.

Em um período que varia de 34 a 88 dias, cada  ninfa que sai da ooteca  sofre até 12 mudas  e se transforma no animal adulto, em um processo de amadurecimento que dura entre 4 e 5 meses.

As baratas são animais de hábitos noturnos. De noite saem de seus esconderijos e vão em busca de alimento. Mas o que elas comem?

Praticamente tudo, algumas espécies silvestres se alimentam de restos em decomposição, enquanto as baratas que convivem com os seres humanos, como Blatella germanica, são onívoras e roem quase tudo.

A grande fecundidade e os hábitos alimentares pouco exigentes são a causa de um grave problema de saúde pública identificado em algumas aldeias indígenas do país. Durante o dia, as baratas se escondem nos telhados de palha das ocas e em em frestas escuras e úmidas. À noite, milhares de baratas saem de seus esconderijos e vão em busca de alimento e assim, com frequência,  roem a pele das pessoas provocando ferimentos dolorosos.

As crianças são mais sensíveis porque têm sono mais profundo. Imagem em http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2013/09/dormindo-com-o-inimigo

As crianças são mais sensíveis porque têm sono mais profundo. Imagem em http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2013/09/dormindo-com-o-inimigo

As baratas tornam o alimento impróprio para o consumo humano. Imagem em: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2013/09/dormindo-com-o-inimigo

As baratas tornam o alimento impróprio para o consumo humano. Imagem em: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2013/09/dormindo-com-o-inimigo

No endereço http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2013/09/dormindo-com-o-inimigo, há mais informações sobre o problema gerado pelas baratas nas aldeias indígenas.

 Professor: Estimule os alunos a falar sobre as baratas. O tema é importante para destacar a importância dos cuidados com conservação e estocagem dos alimentos e a necessidade de manter a casa limpa. É interessante destacar que baratas são alimento de outros predadores, como por exemplo, os escorpiões, portanto, a presença de baratas pode atrair para as imediações das casas animais muito perigosos. A reportagem de Ciência Hoje destaca a tentativa dos pesquisadores em produzir um repelente natural, mas, como os resultados foram pouco satisfatórios, a solução encontrada pelos indígenas em uma das aldeias, foi colocar fogo nas ocas. Reforce a necessidade de controlar a presença desses animais e organize uma lista com atitudes que todos podemos tomar para evitar a proliferação das baratas.

Cantar até estourar?

Não é raro ouvirmos  pessoas afirmarem que as cigarras estouram (ou explodem) de tanto cantar. A informação parece estranha, mas, mesmo assim, muitos acreditam nela. Então, podemos nos perguntar:  porque as pessoas fariam tal afirmativa ou acreditariam nela?

Frequentemente, observações do mundo natural geram curiosidade e em consequência, tentativas de explicação. Em muitas regiões do país podemos encontrar, aderidas às árvores, estruturas como a que vemos abaixo:

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Observe-a atentamente. Perceba que nas costas do que parece ser um inseto há uma fenda, o que dá a impressão de que o animal  rompeu (rasgou). Terá estourado?

Para entender melhor o que acontece sugerimos o filme que se encontra disponível em http://www.youtube.com/watch?v=tjLiWy2nT7U. Produzido pela BBC de Londres a narrativa é em inglês. Para facilitar a compreensão, fizemos um  pequeno roteiro explicativo com informações adicionais que podem enriquecer a explicação do fenômeno visualizado no filme.

                                                          O surpreendente ciclo de vida das cigarras

O narrador (Sir David Attenborough) inicia contando que certas espécies de cigarras que vivem no leste dos Estados Unidos permanecem 17 anos embaixo da terra, alimentando-se da seiva que extraem das raízes das árvores do local. Após esse período,  em poucos dias, toda uma população de cigarras (na forma de ninfas) sai da terra (aos 0:11 segundos do filme).  São bilhões de indivíduos (estima-se que hajam cerca de 370 ninfas por metro quadrado, em uma grande área que mede quase 100.000 quilômetros quadrados). As ninfas sobem pelos troncos das árvores (aos 0:40 segundos do filme) e se transformam nos animais adultos (aos 1:02 minutos do filme). Para isso, o esqueleto externo (exoesqueleto)  se rompe na região das costas e do interior dele sai o  adulto jovem, cujas asas se expandem rapidamente (o filme  está acelerado, mas em tempo real o processo também é rápido). Em pouco tempo os troncos das árvores e o chão estão cobertos de exoesqueletos vazios. O processo de troca do exoesqueleto recebe o nome de ecdise. Alguns dias depois, com o exoesqueleto já completamente endurecido, os machos produzem um canto intenso, quase ensurdecedor, que pode chegar a mais de 100 decibels. O som é característico para as diferentes espécies e é produzido por um par de  membranas vibratórias  existentes na base do abdômen (aos 2:28 minutos).  O canto dos machos tem por objetivo atrair as fêmeas, que  respondem com pequenos sons semelhantes a estalos (aos 2:46 minutos). Os machos vão em busca desse som. Aos 2:48 minutos, Sir David Attenborough mostra que o som produzido pelas fêmeas é semelhante a um estalo de dedos e para comprovar isso, estala os dedos perto de um macho que passa a se mover em busca da fonte do ruído, até chegar ao apresentador e finalmente a seus dedos. Quando macho e fêmea se encontram, ocorre o acasalamento (aos 4:15 minutos). Finalmente, o narrador explica que pouco se sabe sobre os mecanismos que levam as cigarras a sair simultaneamente do solo após terem se passado 17 anos de sua existência subterrânea.

Entre a imagem acima e a foto abaixo, há muita diferença no aspecto do inseto. Isso se deve ao fato de que as asas e o esqueleto ainda precisam endurecem para que o animal finalmente chegue ao estágio adulto.

Cigarra adulta -

Cigarra adulta de uma espécie encontrada no Brasil.

Depois do acasalamento, as fêmeas fazem de 50 a 60 fendas  na casca de galhos tenros e ali realizam a postura de seus ovos. Cada fêmea, em sua curta existência de animal adulto, coloca cerca de 600 ovos. Em algumas semanas, as pequenas ninfas eclodem e buscam refúgio sob  o solo (algumas se enterram quase 30 cm), onde ao longo de 17 anos  (se forem da espécie americana vista no filme), se alimentam de seiva das plantas e sofrem mudas, até atingir o último estágio de  ninfa e sair para a superfície, dando início a outra “invasão barulhenta”.

O ciclo de vida das cigarras pode ser resumido em: ovo –> ninfa –> adulto, por isso, dizemos que esses insetos sofrem metamorfose incompleta, isto é, são hemimetábolos.

Ciclo de vida das cigarras - ilustração de Treasure Bay & Judith Hunt.

Ciclo de vida das cigarras – ilustração de Treasure Bay & Judith Hunt.

Ainda que o mecanismo de eclosão simultânea seja pouco conhecido (parece ter bases genéticas, sendo desencadeado pela ação de um determinado gene), os pesquisadores acreditam que o aparecimento dessa imensa quantidade de animais ao mesmo tempo seja uma estratégia de sobrevivência, pois assim,  a maioria dos insetos sobrevive à predação. Os principais predadores das cigarras são aves e certas espécies de vespas.  Essas vespas têm grande porte (chegam a 5 cm) e são conhecidas como cicada killer wasps (vespas assassinas de cigarras). A vespa paralisa a cigarra com o veneno inoculado por seu ferrão, e carrega-a  para sua toca. Lá deposita um ovo sobre ela. Um ou dois dias depois, a larva eclode e começa a se alimentar da cigarra.

As cigarras que vivem em território brasileiro não cumprem um ciclo de vida tão longo, elas geralmente completam seu desenvolvimento entre 1 ou 2 anos e não saem simultaneamente de seus abrigos sob a terra. Algumas espécies causam prejuízos à lavoura, especialmente de café. As ninfas escavam as raízes com suas fortes patas anteriores (observe na fotografia que mostra o exoesqueleto vazio), causando danos às plantas.

O incrível ciclo de vida das cigarras tem sido uma fonte de fascínio desde tempos antigos, por exemplo, os chineses consideravam  que estes insetos eram  poderosos símbolos de renascimento.

Professor: aproveite para valorizar o conhecimento popular como algo que geralmente é a tentativa de explicar fenômenos observados na natureza. Apesar de  a explicação popular frequentemente não corresponder à explicação dada pelos pesquisadores, nem por isso, ela deixa de ter valor como patrimônio cultural. Questione se os alunos conhecem outras crenças relacionadas ás cigarras, por exemplo, frequentemente as pessoas vêem em seu canto um indício de chuva.

Poucos insetos fazem metamorfose incompleta e o exemplo das cigarras (com seu incrível ciclo de vida) pode tornar o tema mais atraente. Além disso, ele pode ser usado para reforçar a necessidade das mudas ou ecdises. Questione os alunos se eles já encontraram essas “casquinhas” de cigarras aderidas às árvores e o que imaginaram que fosse. Estimule-os a observar atentamente as fotografias e o filme, que pode (e deve) ser pausado diversas vezes para destacar os principais acontecimentos  da vida das cigarras ali apresentados.

A menor pulga

Parasitas são organismos que vivem associados a  outros, de quem retiram os  nutrientes que necessitam para sobreviver. Alguns  parasitas  vivem dentro do organismo hospedeiro, são os endoparasitas, como por exemplo, alguns vermes intestinais, bactérias, fungos e protozoários. E  outros  vivem sobre o corpo do hospedeiro, são os ectoparasitas, como por exemplo, os piolhos, carrapatos, sanguessugas e as pulgas.

Pulgas em geral, são ectoparasitas de diversos animais e no passado foram as responsáveis pela transmissão da mais mortal das epidemias, a Peste Negra, que dizimou quase um terço da população da Europa no século XIV.

Mas há várias espécies de pulgas e neste post vamos descrever e conhecer uma espécie  em particular, a Tunga penetrans, causadora da tungíase,  uma parasitose conhecida popularmente no Brasil como bicho-de-pé (ou bicho-de-porco). Em espanhol, a parasitose recebe o nome de nigua; em inglês chigger, sand-flea ou chigoe flea; em alemão Sandfloh e em francês chigue.

Segundo pesquisadores, o parasita parece ser originário das Índias Ocidentais e de lá, através dos navegadores se espalhou pelo mundo. Atualmente pode ser encontrado em 88 países, especialmente na África, América Central e do Sul, Paquistão e Índia.

O bicho-de-pé já é mencionado nos relatos mais antigos sobre o Brasil e seus primeiros habitantes. Era conhecido pelos índios que o chamavam de tunga.  Hans Staden, o aventureiro alemão que foi prisioneiro dos Tupinambás em meados do século XVI, escreveu: “há ali pequenos insetos, parecidos com pulgas, mas um pouco menores e que chamam de tunga na língua dos selvagens. Surgem nas cabanas devido à sujeira das pessoas e grudam nos pés. Apenas coçam quando penetram na carne,  e comem a carne sem que se possa realmente senti-los. Quando não se presta atenção e não são logo extraídos, formam um nicho arredondado como uma ervilha. Quando se percebe e logo se tira o animalzinho, fica um pequeno buraco na carne, do tamanho de uma ervilha. Quando cheguei a essa terra com os espanhóis, não tardou muito para eu ver como os insetos deixaram em horrível estado os pés de alguns de nossos camaradas que não lhes deram atenção“. (Staden, H. Duas Viagens ao Brasil. Porto Alegre:L&PM,2009.p.175)

Essa descrição,  feita há mais de 450 anos atrás, é muito realista. Quem já viu alguém com bicho-de-pé certamente identifica cada trecho da narrativa.

O  “inseto, parecido com pulga” ao qual H. Staden se refere é de fato uma pulga, porém muito menor do que aquelas que parasitam cães e gatos, por exemplo. A Tunga penetrans  mede apenas um milímetro de comprimento e seu nome científico, dado em 1838, aproveitou o termo indígena pelo qual era conhecido.

Tunga penetrans sobre a pele do hospedeiro. Ampliação aproximada: 50 x. Imagem em Sciencephotolibrary

Tunga penetrans sobre a pele do hospedeiro. Ampliação aproximada: 50 x. Imagem em Sciencephotolibrary

Para H. Staden e as pessoas de sua época, as pulgas surgiam por geração espontânea, a partir da sujeira, no entanto, o fato real é que elas se originam de ovos que parecem ser capazes de permanecer longo tempo no meio ambiente, especialmente em solos arenosos e pouco iluminados. No Brasil, essas pulgas podem ser encontradas em todo território nacional, especialmente em comunidades carentes e sem acesso a moradias adequadas, podendo em algumas regiões, segundo pesquisas recentes, atingir quase 50% da população.

Cães, gatos, ratos, ovelhas, burros, elefantes, macacos e outros mamíferos podem ser parasitados e  são focos de disseminação do parasita.

A pulga pula somente cerca de 20 cm, por isso a infestação geralmente se restringe aos pés ou pernas, mas pode acontecer em qualquer parte da pele.

O ciclo de vida dos animais é bastante complexo, pois como muitos outros insetos, as pulgas passam por metamorfose completa antes de chegar à vida adulta.

Ciclo de vida da Tunga penetrans (fora de escala, cores artificiais)

Ciclo de vida da Tunga penetrans, causadora do bicho-de-pé (fora de escala, cores artificiais)

1- Ovo – que mede entre 600-320 micrômetros

2- Larvas – saem dos ovos de 1 a 6 dias depois da postura e ficam parcialmente enterradas no solo arenoso

3 – Pupa – se forma 5 a 11 dias após a eclosão da larva. O casulo é protegido por grãos de areia. O processo de metamorfose da pupa se completa em 9 a 15 dias.

4 – Adultos – a fêmea não fertilizada suga sangue do hospedeiro e em seguida começa a escavar a pele. Acomodada na cavidade, ela fica com a parte posterior do abdômen volta para a superfície da pele  e é fertilizada por uma pulga macho.

5- Tem início o processo de hipertrofia do abdômen que chega ao tamanho de uma ervilha. Geralmente três dias depois da penetração, surge um halo branco ao redor de um ponto negro. No momento do maior crescimento abdominal, a pulga, que era a menor do mundo, agora tem um diâmetro de 5 a 10 mm, o que corresponde a um aumento de volume de 2000 a 3000 vezes. Esse abdômen tão aumentado abriga entre 100 e 200 ovos estão maduros e prontos para ser dispersos. Cerca de 3 semanas após penetrar a pele, a fêmea morre.

Ovos de Tunga penetrans muito ampliados ( foto em www.healthinplainenglish.com)

Ovos de Tunga penetrans muito ampliados ( foto em http://www.healthinplainenglish.com)

Aspecto do local parasitado (foto em www.healthinplainenglish.com)

Aspecto do local parasitado (foto em http://www.healthinplainenglish.com)

Por diversos motivos o bicho-de-pé (tungíase) é uma parasitose negligenciada. Geralmente a presença do parasita não é entendida como algo grave ou como uma doença. Muitas pessoas dizem sentir uma “coceirinha agradável” no início do processo, porém poucos dias depois o local começa a doer muito. Se nada for feito, e quando há a presença de muitos parasitas, as cavidades escavadas pelas fêmeas podem ser  a porta de entrada para infecções graves que em alguns casos chegam a exigir a amputação do dedo, pé, ou perna e que sem assistência médica podem levar à morte.

Não há tratamento para a parasitose, a forma usual de eliminar o parasita é a retirada da cápsula com o auxílio de agulha esterilizada.

Professor: O bicho-de-pé é um ectoparasita importante em nosso país e a causa de graves problemas de saúde que podem inclusive levar à morte. É preciso conscientizar os alunos de que o bicho-de-pé é uma doença. Questione os alunos sobre os conhecimentos que possuem sobre o tema. Permita que eles contem suas experiências a respeito. Estimule os alunos a propor formas de diminuir a  incidência do bicho-de-pé na população brasileira. Para orientar a discussão saiba que os pesquisadores têm poucas sugestões a dar,  as principais são: evitar caminhar descalço ou de chinelos em áreas propícias ao desenvolvimento das pulgas; morar em residências com piso cimentado; manter animais de criação em áreas com piso cimentado e distantes da casa; manter casa e arredores sempre limpos.

Aranhas perigosas

As aranhas, frequentemente, causam  em muitas pessoas medo, aversão e repulsa. Em casos mais raros, esse medo manifesta por meio de  crises de pânico com suor frio e taquicardia,  que recebem o nome de aracnofobia. Nestes casos, a repulsão sentida pela pessoa é tão forte que é preciso ajuda de terapia para superá-la. Esse medo desmedido provavelmente tem raízes culturais e se relaciona à aparência das aranhas e ao veneno que elas produzem.

Quimicamente, o veneno das aranhas é uma complexa mistura de diferentes substâncias. Há grande variedade de venenos e todas as aranhas possuem glândulas de veneno, assim, todas são venenosas, especialmente para suas presas. No entanto, dentre as mais de 40.000 espécies de aranhas, somente  duzentas são perigosas  e têm potencial para causar a morte de seres humanos. Essas espécies estão agrupadas em quatro gêneros:  Atrax, Latrodectus, Loxosceles e Phoneutria.

Estima-se que  anualmente, no mundo todo, estas aranhas causem a morte de aproximadamente 200 pessoas.

Atrax  (aranha teia de funil)

É nativa da Austrália e uma das mais venenosas do mundo. Seu corpo mede entre 1 e 5 cm. O veneno provoca dor, tremores, cãibras musculares, confusão visual e paralisia dos centros respiratórios. Apesar disto, em mais de 100 anos de relatos, somente houve doze acidentes fatais.

Atrax robustus

fonte da fotografia: Britannica.com

Latrodectus (viúva-negra)

A viúva negra é uma aranha  muito pequena, com cerca de 1 cm de comprimento. Caracteristicamente, possui abdome negro com uma mancha vermelha na região ventral (há espécies com manchas brancas ou marrons). Costuma viver em locais escuros e abrigados, em gramados, parques, jardins. No Brasil frequentemente são encontradas nas regiões litorâneas, especialmente da região Nordeste.

O nome popular das aranhas do gênero Latrodectus, viúva-negra, se deve ao fato de que a aranha macho morre logo após a fertilização da fêmea.

A fêmea geralmente é maior e é a causadora da maioria dos acidentes.

No momento da picada geralmente não dói, mas alguns minutos depois pode surgir dor intensa, tremores, sudorese, cãibras. Os músculos abdominais ficam rígidos. O rosto fica vermelho, os lábios e pálpebras inchados.  A rigidez da musculatura pode se estender aos músculos respiratórios, produzindo parada respiratória e morte. O tratamento com soro específico traz bons resultados.

fonte da fotografia: http://www.umm.edu/imagepages/19582.htm

Loxosceles  (aranha marrom)

As aranhas marrons não são agressivas e os acidentes geralmente ocorrem como forma de defesa, pois elas entram em sapatos, tênis e se escondem nas roupas e quando nos vestimos ou calçamos, comprimimos o animal contra o corpo. As aranhas marrons são muito pequenas, o corpo mede cerca de um centímetro de comprimento (na foto uma aranha marrom ao lado de uma tampinha de refrigerante), mas isso não as torna inofensivas.

Aranha marrom-1Aranha marrom-10

Aranha marrom (Loxosceles intermedia)

A picada não dói, mas em algumas pessoas, no local surgem feridas profundas e extensas. Estas feridas surgem pela ação de um dos diversos compostos que constituem o veneno, a enzima esfingomielinase.  Sem tratamento o veneno pode causar falência  renal e morte.

Para neutralizar as toxinas circulantes  no sangue, deve ser aplicado soro específico, o soro antiloxoscélico, que é produzido pelo Instituto Butantan.

Como a picada da aranha-marrom não dói e os efeitos no local surgem depois de algumas horas,  as pessoas só procuram ajuda quando o ferimento já está se desenvolvendo. O problema é que essa ferida é de difícil tratamento e pode levar meses para cicatrizar. Em alguns casos, é preciso fazer enxertos de pele para reparar os danos.

Fotografia em http://www.ces.ncsu.edu/depts/ent/notes/Urban/recluse.htm

Em 2012, segundo o Ministério da Saúde, em todo o país ocorreram 7434 acidentes com aranhas marrons (com 3 óbitos) , sendo mais da metade deles (4091) no Paraná, especialmente em Curitiba (1357).

As aranhas marrons costumam se abrigar nas casas, onde se escondem em caixas, gavetas, sapatos e no guarda roupa, por isso é preciso cuidado ao colocar a mão em locais onde elas possa estar escondidas. Limpar os pátios das casas, evitando entulhos e acúmulo de papéis também é um modo de reduzir os riscos de acidentes. A aranha marrom não constrói teias circulares, mas produz um emaranhado de fios nos lugares onde se esconde.

Fotografia em http://www.cit.sc.gov.br/index.php?p=aranhas

Um predador importante de Loxosceles, são as lagartixas.

Phoneutria (aranha armadeira)

São as aranhas mais venenosas. Em contraste com as espécies descritas acima, a armadeira é muito agressiva, ao se sentir ameaçada, levanta os dois pares de pernas dianteiras e se apoia nas traseiras,  mostrando as manchas listradas abaixo das pernas como sinal de alerta.

Fotografia em: http://www.ceo.org.br/estudos/preven.htm

As armadeiras podem atingir de 3 a 4 cm de corpo e até 15 cm considerando o comprimento das patas.  São animais que podem buscar abrigo no interior das casas ou no meio de folhagem, como na bananeira.  Os acidentes ocorrem  dentro das residências ou no meio rural durante a colheita da banana, por causa disso, nos Estados Unidos esta aranha é conhecida como aranha da banana.

A picada causa intensa dor local, tremores, taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos), vômitos, suor frio. Em testes em laboratório, constatou-se que a aranha pode injetar 8 mg de veneno em uma picada, o que, teoricamente, seria capaz de matar 300 camundongos. Apesar disso, os casos de morte pela picada de Phoneutria são relativamente raros, pois o uso de soro específico é muito eficaz.  Em 2012, foram 3538 acidentes com aranhas armadeiras no Brasil, com um óbito registrado.

Professor: depois de abordar essas informações com os alunos, estimule-os a produzir um folheto com instruções sobre como prevenir acidentes com aranhas e que medidas tomar no caso de acidentes. Chame a atenção para o fato de que as aranhas são relativamente pequenas e à exceção da viúva negra, Loxosceles e Phoneutria costumam se esconder dentro de casa. Destaque ainda que Atrax não ocorre no Brasil.

No endereço eletrônico:

http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/anvisa/home faça a busca RENACIAT e entre na página com a lista dos  endereços e telefones dos diversos Centros de Informações Toxicológicas nos Estados, neles é possível obter informações sobre como proceder em casos de acidentes com aranhas ou quando houver suspeita deste tipo de acidente.

Aranhas

Uma forma de abordar esse conteúdo é perguntar as concepções prévias que os alunos têm sobre estes animais. Provavelmente a maioria das respostas vai mencionar que aranhas são animais perigosos. Porém será que essa afirmação é verdadeira?

Não raramente, as aranhas são vistas como seres muito perigosos que nos ameaçam com suas presenças, no entanto, a verdade é que poucas espécies oferecem risco real e a maioria delas, cumpre um importantíssimo papel ambiental ao capturar insetos, evitando que eles se multipliquem sem controle.

Há uma variedade muito grande de aranhas que podem ser encontradas nos mais diversos ambientes.

aranha 6-001

As aranhas fazem parte do grupo dos artrópodes, e como tal possuem exoesqueleto e patas articuladas. É provável que algum aluno já tenha visto uma “casquinha” com jeito de aranha presa a alguma cortina, por exemplo. Essa “casquinha” é o exoesqueleto de onde a aranha saiu para poder crescer.

Todas as aranhas possuem o corpo dividido em cefalotórax e abdome. Na imagem abaixo, o abdome é a porção maior com manchas amarelas e o cefalotórax é a região onde se inserem as oito patas, os palpos, com os quais elas manipulam objetos e as quelíceras com as quais injetam o veneno.   A maioria das aranhas possui oito olhos, no entanto, elas se orientam principalmente pelo tato e pela identificação de compostos químicos presentes  no meio.

IMG_2344        Aranha escondida na bromélia 02-04-2009 00-25-03

Na foto podemos ver alguns olhos da tarântula.

Utilize a fotografia abaixo e convide os alunos para  contar o número de patas e o local onde elas se inserem. Peça que os alunos façam um desenho esquemático do corpo da aranha e suas patas.

aranha 2

Observe que essa aranha da foto acima está rodeada de fios. Todas as aranhas produzem “seda”, um fio muito resistente com o qual elas capturam as presas ou usam para envolver e proteger seus ovos.

Aranha - Ooteca

Algumas aranhas tecem e carregam consigo uma ooteca que abriga os ovos.

P1170728-001                                        ooteca

Ooteca com ovos (4) Ooteca com ovos (10)

 

 

 

 

 

 

 

Mas o uso mais conhecido para o fio que elas produzem é a construção de teias. Cada espécie tem seu padrão de teia.

Teia (7)Teia (11)P1080468-001

Seja qual for a finalidade do fio,  ele inicialmente é um líquido produzido por glândulas (fiandeiras) localizadas  dentro do abdome. Há seis tipos de glândulas e cada uma produz um tipo de material. Em contato com o ar essas substâncias se transformam em fio. Muito resistente,  esse material vem sendo estudado na tentativa de ser sintetizado em laboratório. O gráfico  indica a resistência  de fio produzidos por diversos  materiais e esticados até rasgar (fonte: Foelix R.F. Biology of Spiders. N.York:Oxford, 2011). Observe que a seda produzida pela aranha é o material mais resistente quando comparado à celulose, osso, borracha e tendão e tem a metade da resistência do aço.

Tabela resistência fio seda aranhas

No endereço:  http://youtu.be/7eajCVMBLdI  disponibilizei um pequeno vídeo em que é possível ver o trabalho de uma aranha construindo sua teia. Peça aos alunos que assistam com atenção e verifiquem que o fio da teia sai da extremidade do abdome. Aranhas como estas,  produzem teias aéreas circulares (orbiculares) que, colocadas em lugares estratégicos,  funcionam como armadilhas, prendendo insetos que servirão de alimento para a aranha. Os insetos ficam presos nos fios pegajosos desse tipo de teia.

IMG_2153    Pequeno inseto preso à teia

Mas, se os fios são pegajosos, porque as próprias aranhas não ficam presas neles? Desafie os alunos a buscar uma explicação para este fato. Deixe que eles exponham suas ideias ou pesquisas.

Depois explique que isso é possível porque na verdade, os fios não são pegajosos, as aranhas colocam sobre alguns deles  uma substância que os tornam grudentos. Mas, a aranha não coloca esse material em todos os fios, apenas naqueles que formam a espiral,  os fios do raio e da moldura geralmente não  recebem essa camada pegajosa e é por eles que a aranha se movimenta.

Ao sentirem que uma presa foi capturada, as aranhas vão até elas e perfuram seus corpos com as quelíceras, por onde sai o veneno que paralisa ou mata a presa. Algumas espécies envolvem a presa na seda e a levam para a toca ou esconderijo. Para se alimentar, algumas injetam na presa um líquido contendo enzimas, que faz a digestão do animal e a aranha apenas “suga” essa material liquefeito.

quelíceras - desenho   Quelíceras ampliadas  cerca de 160 vezes. Na extremidade as aberturas por onde o veneno sai.

Aranhas são grandes caçadoras e às vezes capturam presas muito maiores do que elas.

Aranha caçando-1Aranha caçando-2 Aranha caçando e imobilizando a mosca..-5

Peça aos alunos para observarem com atenção as imagens das aranhas com suas presas. Chame a atenção para o tamanho da aranha e da presa.

Das mais de 40.000 espécies, somente cerca de 200 trazem algum risco para os seres humanos. Vamos conhecer um pouco mais sobre elas no post seguinte.